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Australia for 2 (V) - Dourada Explosão


Entrámos a custo pela porta entreaberta de ferro forjado, que se queixou sonoramente. Choravas agarrada à tua coxa . As tuas lágrimas limpas abriam caminho pelas delicadas feições empoeiradas e o teu sangue denso ensopava os curtos calções, apenas para depois escorrer pelas tuas pernas. Contive um grito com tremenda dificuldade, agarrei-te num momento e, com extrema facilidade te encostei contra mim. Os teus soluços saiam abafados pelo meu peito, discretos como as lágrimas que me fugiam. A mina era escura e demorámo-nos a adaptar à fraca luminosidade. No entanto, não parámos.

Segundos depois, voltámos a ouvir o queixume do ferro do portão, desta vez aberto por eles. Contigo ao meu colo, não os conseguiríamos despistar. Murmuraste e pediste-me que te abandonasse. Ignorei-te, claro. Suplicaste. Contrariei-te; nunca te deixaria para trás... Virei instintivamente em direcção a uma luz baça um pouco distante. Ouvi ameaças vindas do fundo do túnel enquanto passávamos por uma trave de madeira que marcava o início de um outro sector da mina.

No tampo de uma mesa velha, encontrava-se uma lamparina frouxa, alimentada a petróleo, e, pelo aspecto do fogo no seu interior, o combustível estava no fim. Todavia, a pequena chama foi suficiente para que nos apercebessomos do conteúdo da sala: estantes com planificações esquemas enrolados, pepitas de ouro espalhadas aleatoriamente pelo chão e, repousando num baixo banco redondo, alguma dinamite que, em circunstâncias normais, seria utilizada para abrir novos túneis.

Ouvimos, mais perto, o som das armas a serem carregadas com mais balas, pousei-te lentamente no chão escuro e olhei para ti e tu para mim. Apesar de nos termos visto mutuamente através de uma cascada espessa de lágrimas de dor, cansaço e desespero, ambos compreendemos o que o outro pretendia dizer. Dirigi-me aos explosivos com uma pressa justificada e, depois de os agarrar, estendi-me para apanhar o candeeiro que se estava a apagar. Olhei para ti no que pareceu um desajeitado pedido de desculpas e acendi os rastilhos, atirando de seguida a dinamite com toda a força que consegui reunir em mim. Num último esfrço, corri para ti e contigo me sentei. Envolvi-te com os meus braços, tu agarraste-te ao coração de ouro que trazias ao peito e fechámos os olhos.

11 pessoas comentaram:

early bird disse...

ou sou eu que sou muito fraca e sensível e sei lá, ou esta é simplesmente a melhor parte de todas. se calhar tenho uma mente muito imaginativa, se calhar foste tu que fizeste passar o despero deles tão bem. Depois esta música a tocar ao mesmo tempo arrepia-me. E tudo isto combinado quase que me fez chorar. Quase! Mas li tudo com um nó na garganta, bolas. És genial @.

Adriana A. disse...

Notei a tua ausência mas sei que em férias se torna complicado estar constantemente presente por estes lados :)

Este texto fez-me perceber o valor do grande amor, deixei-me envolver e verteram-se algumas lágrimas... Obrigada por isto :)

fuck disse...

Tens um dom pah!
Só de saber que tenho que esperar até setembro para voltar a ler os teus textos :s
ó, vou ter saudades pah!

raquel sousa disse...

- Que história, pôw, a sequencia " Austrália " está cada vez melhor !

Cátia disse...

E acabas este capítulo assim?? Ohpa!
Next! :)

Anónimo disse...

Está mesmo lindo!!

Maionese disse...

escreves realmente muito bem. esta parte foi a minha favorita.
chegaste a ir ver a editora de que te "falei"?
bem haja!

http://forcanamaionese.blogspot.com

Mara disse...

Meu Deus, passei agora por aqui a dar uma vista de olhos, li este primeiro. Mas quando fui a ver os outros... Juro-te, devias pensar em fazer alguma coisa da tua escrita. É que escreves incrivelmente bem!

Cátia Vilhena disse...

uaaaau, escreves tão bem.

Anónimo disse...

Clica aqui para veres a minha nova postagem!

Catarina Leandro disse...

Muito bom.
Visita http://www.catarinaleandro21.blogspot.com/

Catarina Leandro

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