
Os teus perfeitos caracóis claros voavam devido à velocidade do nosso jipe, tal como uma moldura dourada, barroca que tenta fugir devido à extrema beleza da pintura. Era assim o teu rosto, o quadro por deuses pintado: profundo, mas simples; bonito, mas tímido; teu, mas meu. Seguravas o teu chapéu com a mão direita, não confiando no fino fio acastanhado roçava o teu pescoço e que o segurava à cabeça. Usavas os teus calções mais curtos, uma camisola branca de alças empoeirada e o colar que te tinha oferecido - o pequeno coração de ouro branco que pendia por cima do fino top. E estavas feliz. Feliz.
Eu conduzia atento aos quilómetros de deserto alaranjado. O meu chapéu australiano, semelhante ao teu, estava preso entre as minhas costas e o banco de pele branca do jipe para não se escapar, o que fazia com que o meu cabelo também se agitasse livre. Pressionava o pedal com um pé calçado num chinelo havaiano grande demais para mim e acelerava bem, saltando por cima das pequenas dunas de terra e contornado as maiores. Usava uma t-shirt e calções comprados há alguns dias em Cooper Peddy. Tal como tu, tinha um sorriso no rosto. A liberdade que serpentear num dos fenomenais desertos da Austrália me proporcionava era estonteante! Eu estava livre, tal como os cabelos. Livre.
De vez em quando, para grande satisfação nossa, avistávamos ao longe alguns cangurus ruivos a saltar; espécie frequentemente vista na zona mais a norte do deserto de Victoria.
Quando o sol se começou a esconder atrás das dunas e começou a lançar os seus raios mais avermelhados sobre a planície desértica, demos meia volta ao nosso Jeep Wrangler amarelo de tecto aberto, terminámos o nosso safari desse dia e fomos em direcção a Kalgoorlie, muito para oeste, onde dormiríamos.